quarta-feira, 3 de abril de 2013

Confessionário

     Se criei este blog para compartilhar meu caminho até perder todos os quilos que quero e preciso, também faz parte dele descrever o enorme desafio que é encarar um regime.
     Estar de dieta é um desafio solitário. Ninguém pode te acompanhar nessa jornada a não ser você mesma. Ninguém se alimentará corretamente, ninguém fará exercícios físicos por você, assim como ninguém terá em seu lugar o corpo e a saúde que você almeja. A solidão, por outro lado, não impede que haja um confronto entre dois seres: você no presente e como você deseja ser no futuro. Duelo de titãs, pois ambas versões de você são poderosas. Suas duas faces têm motivos, reclamam, brigam, se batem. Você cansa. Seu corpo cansa. Porque são 24 horas de batalha e o hoje, neste início, ainda é dominante. Essa peleja durará por muito tempo. 30kg, devo atravessar o resto do ano em guerra.
      Minha mente, às 01:04 da manhã, está em polvorosa. Não consigo dormir, não consigo relaxar. Estou com preguiça, estou cansada. Estou com fome. Estou comendo chocolate. Peço perdão a mim mesma. Me perdoe. Não consegui. Meu corpo está em crise, meu corpo pede uma bomba de calorias, meu corpo se desacostumou a se alimentar corretamente, há anos não faço isso. Meu corpo pede pão, pede leite em pó, café com leite, pede gorduras, pede pizza, churrasco, comida de peão, coxinha, muito queijo e também presunto.
     Meu cérebro e minhas emoções estão em colapso. Preciso reprogramar meus neurotransmissores, preciso conscientizar a minha mente. A verdade é que não tem como uma dieta não ser traumática. Acho que mudar de hábitos é como um desfralde ou como abandonar a chupeta. Como deixar de lado "alimentos" que me fizeram tão feliz? Não consigo pensar nos problemas de saúde e auto-estima. Nesta hora instintiva, só penso no prazer que é sentir a casquinha crocante de uma boa fritura, o queijo derretido, a carne molinha e mal passada.
     Neste momento, em que devoro leite, massa e manteiga de cacau extremamente açucarados, não penso que posso morrer. Não penso que meu fígado está sobrecarregado de gordura; que tenho tanta adiposidade no abdome que sinto meu coração quase explodir; não penso que minha pele está se dilacerando em estrias porque sua elasticidade não é mais suficiente para segurar o meu tamanho. Só penso no prazer. O mesmo prazer que me entristece agora, que me culpa, que me reprime, que me alerta.
     Aos poucos vou enjoando. Enjoei de tanto chocolate. Quatro barras pequenas, no total, 120g de chocolate. Não consegui comer tudo, só acabei com duas. Os restos das outras duas deixei, enquanto sinto o açúcar entrar com rapidez no meu organismo. É como se eu conseguisse sentir a gordura aumentando, sobrecarregando minhas veias, artérias e órgãos. Sinto minhas células serem possuídas, consigo visualizá-las tentando lutar em vão contra essa invasão consentida. Sinto o leite se transformando em muco em minha garganta. E ao mesmo tempo em que me culpo, sinto pena de mim. Sinto pena das minhas células e do meu coração. Me vem o desejo de me cuidar. De me proteger. Acho que é isso que vim fazer agora no blog: denunciar meus maus tratos. São exatamente 01h31min do dia 04 de Abril de 2013 e eu vim me denunciar por agressão. Existe algum programa de proteção contra si própria? É esse que eu quero. Mas não, não preciso de camisa de força.
Preciso de força de vontade.

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